No dia 17 de junho, Dr. Vivek Murthy, conselheiro de saúde dos Estados Unidos, surpreendeu o mundo ao sugerir que as redes sociais deveriam receber um rótulo alertando sobre seus efeitos prejudiciais à saúde mental dos jovens. Para Murthy, a medida é essencial para iniciar um debate sobre os perigos do uso excessivo das redes sociais durante uma fase da vida em que as pessoas estão mais vulneráveis. Ele comparou essa iniciativa à rotulagem de advertência nos maços de cigarro, que ajudou a conscientizar a sociedade sobre os riscos do tabagismo.
Murthy acredita que, embora a rotulagem por si só não seja suficiente para interromper o uso das redes sociais por crianças e adolescentes, ela pode desencadear uma discussão essencial sobre os efeitos de um sistema que, segundo ele, propaga padrões irreais de beleza e consumo, afetando gravemente a saúde mental.
A proposta de Murthy foi recebida com alívio e esperança por especialistas em educação, psicólogos e neurocientistas ao redor do mundo. No Brasil, Patrícia Villa, psicóloga escolar da Casa Thomas Jefferson e da ONE School, celebra a iniciativa. Ela destaca os danos que o uso excessivo das redes sociais pode causar, especialmente em estudantes. Segundo Villa, o aumento nos diagnósticos de depressão e ansiedade, assim como a dificuldade crescente de relacionamentos interpessoais, são alguns dos reflexos desse fenômeno.
Durante a pandemia, as redes sociais desempenharam um papel crucial ao permitir a comunicação e a disseminação do conhecimento. No entanto, Patrícia Villa alerta para o "efeito rebote" pós-pandemia: jovens que perderam ou não desenvolveram a habilidade de se comunicar de maneira natural. "Estamos vendo cada vez mais jovens sentados lado a lado, cada um conectado a redes sociais. É preciso reaprender a se relacionar sem usar a tela como mediador", afirma a psicóloga.
A preocupação com o impacto das redes sociais na saúde mental já foi expressa por outros especialistas, como o renomado neurocientista francês Michel Desmurget, autor de "A Fábrica de Cretinos Digitais". Em seu livro, Desmurget alerta que, pela primeira vez na história, as novas gerações têm um QI menor que o de seus pais, e ele atribui esse declínio em grande parte ao uso excessivo das telas.
Patrícia Villa acredita que a rotulagem das redes sociais poderia ajudar a reverter essa tendência. "Não é possível abandonar totalmente as telas, mas precisamos encontrar um equilíbrio. Médicos, professores e neurocientistas ao redor do mundo estão recomendando isso. Agora, falta às famílias se conscientizarem", conclui.
Rotular as redes sociais como nocivas à saúde mental pode ser um passo importante para proteger as futuras gerações. Embora não seja uma solução definitiva, essa medida pode ser o ponto de partida para um debate mais amplo sobre o uso responsável da tecnologia e o impacto dela na nossa saúde mental.
Casa Thomas Jefferson, 3/Set/2024